quinta-feira, 10 de maio de 2012

Ela disse adeus!


Separações nunca são faceis...
Mesmo as mais simples, podem causar muita dor!
Um amigo que muda de escola, ou que deixa o país...
Um irmão que sai de casa...
Um namoro que acaba...
Um casamento...
Uma morte...

Sei que esse ultimo é realmente muito doloroso, nunca ninguém está preparado pra ela, mesmo sabendo que essa é a unica certeza de nossas vidas...

Na verdade o que dói é o rompimento do laço!
Todos criamos laços, basta que tenhamos sentimentos por alguém, que esses laços surgem e com o passar dos dias eles ficam cada vez mais forte, e quanto mais forte o laço, mais dolorida é a dor que sentimos quando esse laço é rompido!
Tive muitos laços rompidos com o passar dos anos, eu sei, muitos outros ainda vão existir, mas acredito que com o tempo, vamos reduzindo a força com que criamos esse vinculo!
Se o laço se cria ao cativar alguém, passa-se a evitar cativar e ser cativado, e quando isso acontece, sabemos que por mais que sintamos forte e indestrutível, uma hora vai se romper e a dor... a dor será inimaginavel...

O Ano de 1991 não foi um ano muito interessante pra minha familia, apesar de termos feito uma viagem ao nordeste juntos, para passar férias, quando voltamos um clima pesado estava no ar, podiamos ver a estranheza no ambiente, e as faiscas que saiam dos olhos de meus pais...

O ano inteiro foi bastante conturbado, coisas muito ruins, realmente muito ruins aconteceram esse ano, coisas as quais eu daria tudo pra esquecer, pra se ter uma idéia da minha vontade de desaparecer com esse ano da minha cabeça, já pensei até me lobotomia!!!
Se hoje eu sou uma pessoa frustrada, de uma baixo estima desprezivel, deprimida, dentre outras coisas, devo muito a esse ano, não... na verdade não... eu devo tudo a esse maldito ano!
Você pode se perguntar o que poderia ter acontecido de tão absurdo com uma criança de 8 anos, que pudesse transformar sua vida de forma tão ruim...
Pois bem... nesse ano, minha mãe andava ausente e meu pai também... fiquei a mercê de pessoas que só queriam o meu mal... e sofri todas as conseqüências de ser a criança amada...

Tradicionalmente no mês de setembro, meu pai fazia seu churrasco de aniversário, naquela festa, em determinado momento, meu pai se entristeceu, e quando foi questionado sobre seu estado de espirito, ele disse: "Ano que vem não estaremos mais juntos"
Ninguém entendeu, acharam apenas que ele não faria a festa...

Alguns dias depois, por culpa dele mesmo, minha mãe foi embora, depois de ser vitima dele, mais uma vez, com o olho roxo, ela decidiu que não aguentaria mais aquilo e se foi... deixou-nos por 24h... e quando voltou, juntou nossas coisas, o pouco que ela tinha, porque tudo naquela casa era do meu pai (pelo menos ele via assim) e fomos embora!

A cena mais marcante desse dia foi minha irmã, voltando desesperada de uma conversa com meu pai, dizia que precisavamos sair dali o mais rápido possivel, pois ele havia dito, que se nos encontrasse quando retornasse, mataria a todos, carregou o revolver e saiu!
Lembro do pânico da minha mãe, lembro de muitas lágrimas e do alivio de entrar no caminhão de mudanças...

A principio, pra mim, tudo era novidade, não entendi exatamente o que estava acontecendo, acho que só fui ter uma noção, quando vi minha irmã mais velha aos prantos por sentir saudade de meu pai, o homem que ela mais odiava no mundo!

Nunca vi minha mãe derramar uma lágrima por causa do que aconteceu, mas também nunca mais vi ela sorrir...
Ela foi se fechando, não importava o que fizessemos, ela nunca estava feliz, nunca nada estava bom o suficiente!
Ela não tinha vontade de mais nada!

Tornou-se amarga, ao ponto de sua expressão facial neutra, ser uma cara amarrada, como se sempre estivesse com raiva de alguma coisa, frequentemente me questionei se essa raiva era de nós.
Ela nunca recomeçou, simplesmente sobreviveu, hoje fazem 21 anos que eles são separados e vejo que ela apenas teve uma sobrevida, e isso se dá, desde os seus 16 anos!

Os anos passaram, e vi minha vida como uma constante despedida, sempre me senti numa estação de trem, sempre no desembarque...
Foram-se inumeros amigos, confesso que não mantive nenhum amigo de infancia, não consigo me apegar, no momento em que eu sinto que eles precisam ir, eu os tiro da minha vida, não facilita muito as coisas, mas ameniza a minha dor.
Aprendi depois de muitas lagrimas que, quando alguém se muda, se vai, ela quer uma nova vida, nada que a prenda ao passado deve ser levado, logo as cartas vão diminuindo (sim eu ainda escrevo cartas), os telefonemas ficando raros, as visitas então...
Até o ponto que nada mais existe, a não ser saudade de tempos que se foram e jamais voltarão!

Isso não acontece apenas com amigos, no meu caso, com familia também, acho que é uma raridade, mas sempre pensei que no dia em que minha mãe faltar, eu não tornarei a ver irmão nenhum, crescemos sem laços, isso é estranho.

Sei muito sobre despedidas, mas acredito que nunca vou me adaptar a despedida definitiva, quando alguém vai embora, fica o sonho do reencontro, quando alguém morre, fica o que?
Perdi pra morte poucas pessoas, perdi a maioria pra vida mesmo.
E acredito, a unica que eu senti de verdade, foi quando Décio, amigo, diretor, mestre... se foi...
Foi uma morte tão boba, se um médico tivesse prestado atenção aos sinais, ele ainda estaria aqui conosco, mas não foi o que aconteceu.
Ele definhou tanto, que no caixão, era apenas uma casca vazia, parecia oco, nem de longe lembrava a figura risonha que conheci.
Ainda hoje, 5 anos após sua morte, ainda não consigo me referir a ele como alguém que se foi... e é o morto mais vivo que conheço, pois sempre faz parte das conversas, e sempre terminamos rindo de algumas de suas histórias, que já tornaram-se verdadeiros classicos.

Infelizmente, depois de um tempo, entendi, que não é dificil dar adeus, dificil é acordar todos os dias de manhã e dar por falta da pessoa, e lembrar que ela se foi.
Uma vez ouvi uma história, que carrego comigo, em meu acervo particular:

"Um sujeito havia perdido os dois braços na guerra, todas as noites e sonhava que era completo, que tinha seus braços de volta, e era feliz, porém na manhã seguinte, ao abrir os olhos, percebia que tudo não passava de um sonho, que jamais teria seus braços de volta!"

Ela disse adeus

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