quarta-feira, 8 de junho de 2011

À luz de velas


Imagine-se em um mundo sem eletricidade, ou qualquer tipo de gerador de energia...
Imagine um mundo sem jogos de computador e vídeo game, sem televisão, radio, cinema...
Imagine um mundo sem internet, sem redes sociais, sem e-mail, sem mensagens instantâneas, você consegue imaginar esse mundo?
Pois é, hoje, eu não consigo!
Principalmente porque vivemos em um mundo, hoje, onde a grande maioria das relações ocorrem de maneira virtual... existem livros virtuais, flores virtuais, amigos virtuais, namoros virtuais, até sexo hoje em dia é virtual!!!
Mas há mais ou menos 23 anos atrás a minha realidade era outra, durou pouco, mas para a crianças que eu era, podia durar a eternidade, que eu juro, seria diversão atrás de diversão, vendo por esse lado, nem sempre fui o ser pessimista que sou hoje, onde será que isso começou? Bem assunto pra outro texto...
Lembro-me perfeitamente quando meu pai disse que precisávamos nos mudar e que iríamos para a chacara!
Vi no rosto de meus irmãos, adolescentes na época, a expressão de ódio e frustração!
Talvez se eu fosse adolescente, também seria uma estadia no inferno, mas como disse para a criança que eu era, aquilo virou uma expedição à selva!!!
Quando chegamos lá adentramos o casarão de madeira, parecia bastante sombrio, cada cômodo era gigante, podia ser dividido em dois e ainda assim teríamos cômodos enormes, a primeira coisa que minha irmã mais velha fez questão de ressaltar a todos foi:
"Não tem agua encanada!!! Não tem eletricidade!!!"
Sabe a expressão de ódio e frustração? Se transformou instantaneamente em pânico!!!
Meu pai logo os tranqüilizou, ou não!
"É por pouco tempo!"
Eu sinceramente não me lembro quanto tempo se passou, mas que foi sensacional, ah foi!!!
Devido a falta de agua encanada, precisávamos buscar agua na mina, pra tudo, para beber, cozinhar, lavar e até mesmo para o nosso banho... e essa era a parte mais interessante!
Meu pai fez uma espécie de caldeirão um um barril de ferro e todas as noites fazia uma fogueira para esquentarmos a agua, como disse, pra mim, era uma tremenda diversão, considerando que nessa fogueira, assávamos milho, batata doce, podíamos ficar em volta ouvindo as histórias de terror e os causos que meu pai e meus primos contavam...
A falta de eletricidade apesar de enlouquecer meus irmãos, fez a minha cabeça ser uma fonte inesgotável de brincadeiras, certa vez criei meu próprio programa infantil, "A borboleta Azul", não me perguntem porque, nem eu sei... enfim, lá estava eu, no palco, platéia lotada, borboleta (eu) cantando e fazendo coreografia, quando involuntariamente por alguma lei da física, joguei meu cabelo pra frente e dei um mortal, caindo com o bumbum no chão, naquele instante tudo desapareceu, o palco virou uma pedra grande, a platéia algumas vacas e cavalos e eu, voltei a ser Vilma, engoli minha vergonha e o choro e saí dali, acreditem, nunca mais voltei para aquele lugar...
Além dessa, outras que já citei, como o estômago do monstro!
Cheguei até a fazer armadilha pro Saddam Hussein, mas acho que nada na minha casa atrairia ele, a menos que tivesse interesse em comer a tapioca com coco do meu pai... talvez, se quisesse um pouco de leite ou coalhada... acho que não!!!
Pra mim, viver naquele lugar, sem eletricidade e com milhões de possibilidades, aguçou a minha criatividade, e só tenho a agradecer por esse curto período, posso dizer inclusive, que muitas das minhas preferências hoje, se deram graças àquela época, desde jantar a luz de velas até brincar de fazer bonecos de sombras na parede...
E sempre que a luz acaba a noite, a casa vira uma festa, acendemos velas, corremos pra sala, contamos histórias, cantamos, dançamos, nos divertimos a valer...
Mas uma hora o espetaculo acaba, as luzes se acendem e todos voltam a sua rotina habitual...


Dancing with my self