sábado, 25 de agosto de 2012

E foram felizes...até o próximo capitulo....


Tenho uma necessidade absurda de saber o fim de tudo.
Acredito que aconteceu lá na terceira série, quando minha professora reclamou de uma redação minha, dizendo que "felizes para sempre" não existe! Tudo e todos tem um fim, até mesmo as princesas viveram algo depois que os príncipes as resgatavam e achávamos que eles viveriam felizes até o fim de seus dias.

Na época, eu com 9 anos fiquei sem entender muito bem, mas mantive isso em minha cabeça, tanto que antes de  ler um livro, sempre lia o ultimo paragrafo, se me agradasse eu comprava e depois quando passei a escrever, procurei sempre finalizar minhas histórias de modo que o leitor se desse por satisfeito com o fim, sem reticencias, apenas um ponto final.

Com o passar dos anos, e com as frequentes despedidas, transferi essa necessidade para a minha vida. Sempre quero descobrir o que aconteceu com as pessoas que se foram, e não tem coisa mais triste pra mim, do que a frase:

"Nunca mais eu vi o dito, nem sei o que aconteceu com ele!"

Para mim é como se a história dele não tivesse uma continuidade...
Como se aquela pessoa parasse no tempo...
Aquele amiguinho do pré que sumiu após a formatura, ficou ali, não concluiu o ciclo da vida: infância, adolescência, jovem adulto, adulto.

E na minha busca por finais, percebi um padrão na vida das pessoas.
Quando o ciclo é rompido, a tendencia das pessoas é tentar voltar para onde se teve essa quebra.
Uma garota de engravidou na adolescencia e teve que antecipar a sua vida adulta, passado o seu momento difícil, procura seus amigos e lugares da adolescencia, como se ela não conseguisse seguir sem finalizar aquela fase.

Outro caso é o garoto nerd, que focou sua adolescencia inteira nos estudos, visando um futuro promissor, não saiu, não namorou, enfim não fez nada além de ter a cara enfiada nos livros. Porém quando atinge seu objetivo, tende a voltar para a fase que pulou, quer ir pra balada, vai paquerar, vira o tipico quarentão, que é chamado de "tio" mas insiste em paquerar menininhas de 18 anos.

Mas também existe o famosos peter pan, o sujeito que simplesmente não consegue finalizar a fase, todos a sua volta cresceram, mas ele insiste em se manter ali, não percebe que seu tempo passou. Ele continua no primeiro emprego, com o sonho adolescente de ser um super star (porque todo mundo em algum momento sonha em ser um super star) e expulsa da sua vida todos aqueles que finalizam a fase.

Eu entendo bem que não é fácil crescer, muito pelo contrario, cada fase que se finaliza é uma espécie de cordão umbilical que é cortado.
Deixa-se para trás coisas boas, coisas ruins, deixa-se para trás um pouco da gente também, mas por mais assustador que pareça, é necessário.
É necessário se livrar um de pouco da bagagem, para que novas coisas possam vir, novas experiências, novas conquistas...
Mas o novo sempre é assustador, é um tiro no escuro, um salto de fé, pode ser que se caia num monte de espinhos, ou apenas numa fofa nuvenzinha, o negócio é arriscar.
Entender que cada fase é uma fase, se infelizmente uma foi perdida, viva intensamente a seguinte, mas voltar, não trás felicidade a ninguém.

Eu posso dizer que vivi bem as minha fases, e as vezes até a saudade de coisas tão boas me deixam nostálgica. Não sinto necessidade de voltar para ela, mas olhar para trás faz com que eu veja que eu vivi intensamente cada fase, sem arrependimentos, remorso, sem tristeza.
Vivi de forma que ficou apenas saudade e boas histórias a serem contadas...


Poema

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Ela disse adeus!


Separações nunca são faceis...
Mesmo as mais simples, podem causar muita dor!
Um amigo que muda de escola, ou que deixa o país...
Um irmão que sai de casa...
Um namoro que acaba...
Um casamento...
Uma morte...

Sei que esse ultimo é realmente muito doloroso, nunca ninguém está preparado pra ela, mesmo sabendo que essa é a unica certeza de nossas vidas...

Na verdade o que dói é o rompimento do laço!
Todos criamos laços, basta que tenhamos sentimentos por alguém, que esses laços surgem e com o passar dos dias eles ficam cada vez mais forte, e quanto mais forte o laço, mais dolorida é a dor que sentimos quando esse laço é rompido!
Tive muitos laços rompidos com o passar dos anos, eu sei, muitos outros ainda vão existir, mas acredito que com o tempo, vamos reduzindo a força com que criamos esse vinculo!
Se o laço se cria ao cativar alguém, passa-se a evitar cativar e ser cativado, e quando isso acontece, sabemos que por mais que sintamos forte e indestrutível, uma hora vai se romper e a dor... a dor será inimaginavel...

O Ano de 1991 não foi um ano muito interessante pra minha familia, apesar de termos feito uma viagem ao nordeste juntos, para passar férias, quando voltamos um clima pesado estava no ar, podiamos ver a estranheza no ambiente, e as faiscas que saiam dos olhos de meus pais...

O ano inteiro foi bastante conturbado, coisas muito ruins, realmente muito ruins aconteceram esse ano, coisas as quais eu daria tudo pra esquecer, pra se ter uma idéia da minha vontade de desaparecer com esse ano da minha cabeça, já pensei até me lobotomia!!!
Se hoje eu sou uma pessoa frustrada, de uma baixo estima desprezivel, deprimida, dentre outras coisas, devo muito a esse ano, não... na verdade não... eu devo tudo a esse maldito ano!
Você pode se perguntar o que poderia ter acontecido de tão absurdo com uma criança de 8 anos, que pudesse transformar sua vida de forma tão ruim...
Pois bem... nesse ano, minha mãe andava ausente e meu pai também... fiquei a mercê de pessoas que só queriam o meu mal... e sofri todas as conseqüências de ser a criança amada...

Tradicionalmente no mês de setembro, meu pai fazia seu churrasco de aniversário, naquela festa, em determinado momento, meu pai se entristeceu, e quando foi questionado sobre seu estado de espirito, ele disse: "Ano que vem não estaremos mais juntos"
Ninguém entendeu, acharam apenas que ele não faria a festa...

Alguns dias depois, por culpa dele mesmo, minha mãe foi embora, depois de ser vitima dele, mais uma vez, com o olho roxo, ela decidiu que não aguentaria mais aquilo e se foi... deixou-nos por 24h... e quando voltou, juntou nossas coisas, o pouco que ela tinha, porque tudo naquela casa era do meu pai (pelo menos ele via assim) e fomos embora!

A cena mais marcante desse dia foi minha irmã, voltando desesperada de uma conversa com meu pai, dizia que precisavamos sair dali o mais rápido possivel, pois ele havia dito, que se nos encontrasse quando retornasse, mataria a todos, carregou o revolver e saiu!
Lembro do pânico da minha mãe, lembro de muitas lágrimas e do alivio de entrar no caminhão de mudanças...

A principio, pra mim, tudo era novidade, não entendi exatamente o que estava acontecendo, acho que só fui ter uma noção, quando vi minha irmã mais velha aos prantos por sentir saudade de meu pai, o homem que ela mais odiava no mundo!

Nunca vi minha mãe derramar uma lágrima por causa do que aconteceu, mas também nunca mais vi ela sorrir...
Ela foi se fechando, não importava o que fizessemos, ela nunca estava feliz, nunca nada estava bom o suficiente!
Ela não tinha vontade de mais nada!

Tornou-se amarga, ao ponto de sua expressão facial neutra, ser uma cara amarrada, como se sempre estivesse com raiva de alguma coisa, frequentemente me questionei se essa raiva era de nós.
Ela nunca recomeçou, simplesmente sobreviveu, hoje fazem 21 anos que eles são separados e vejo que ela apenas teve uma sobrevida, e isso se dá, desde os seus 16 anos!

Os anos passaram, e vi minha vida como uma constante despedida, sempre me senti numa estação de trem, sempre no desembarque...
Foram-se inumeros amigos, confesso que não mantive nenhum amigo de infancia, não consigo me apegar, no momento em que eu sinto que eles precisam ir, eu os tiro da minha vida, não facilita muito as coisas, mas ameniza a minha dor.
Aprendi depois de muitas lagrimas que, quando alguém se muda, se vai, ela quer uma nova vida, nada que a prenda ao passado deve ser levado, logo as cartas vão diminuindo (sim eu ainda escrevo cartas), os telefonemas ficando raros, as visitas então...
Até o ponto que nada mais existe, a não ser saudade de tempos que se foram e jamais voltarão!

Isso não acontece apenas com amigos, no meu caso, com familia também, acho que é uma raridade, mas sempre pensei que no dia em que minha mãe faltar, eu não tornarei a ver irmão nenhum, crescemos sem laços, isso é estranho.

Sei muito sobre despedidas, mas acredito que nunca vou me adaptar a despedida definitiva, quando alguém vai embora, fica o sonho do reencontro, quando alguém morre, fica o que?
Perdi pra morte poucas pessoas, perdi a maioria pra vida mesmo.
E acredito, a unica que eu senti de verdade, foi quando Décio, amigo, diretor, mestre... se foi...
Foi uma morte tão boba, se um médico tivesse prestado atenção aos sinais, ele ainda estaria aqui conosco, mas não foi o que aconteceu.
Ele definhou tanto, que no caixão, era apenas uma casca vazia, parecia oco, nem de longe lembrava a figura risonha que conheci.
Ainda hoje, 5 anos após sua morte, ainda não consigo me referir a ele como alguém que se foi... e é o morto mais vivo que conheço, pois sempre faz parte das conversas, e sempre terminamos rindo de algumas de suas histórias, que já tornaram-se verdadeiros classicos.

Infelizmente, depois de um tempo, entendi, que não é dificil dar adeus, dificil é acordar todos os dias de manhã e dar por falta da pessoa, e lembrar que ela se foi.
Uma vez ouvi uma história, que carrego comigo, em meu acervo particular:

"Um sujeito havia perdido os dois braços na guerra, todas as noites e sonhava que era completo, que tinha seus braços de volta, e era feliz, porém na manhã seguinte, ao abrir os olhos, percebia que tudo não passava de um sonho, que jamais teria seus braços de volta!"

Ela disse adeus